A Educação Moral
O pedagogo pode e deve fazer é
reunir , o mais cuidadosamente possível, todos os dados que a ciência coloca à
sua disposição a cada momento, para que assim possa guiar a ação; e não se pode
exigir dele nada mais do que isso.
A pedagogia não é uma ciência e
nem também é uma arte. A arte da educação não é a mesma coisa que a pedagogia,
é a destreza do educador, a experiência prática do mestre.
A pedagogia é, portanto algo
intermediário entre a arte e a ciência. Ela não é a arte porque não consiste em
um sistema de idéias relativas a essas praticas. Ela é um conjunto de teorias.
Nesse sentido ela se aproxima da ciência. Contudo, enquanto as teorias
cientificas têm como única finalidade exprimir a verdade, as teorias
pedagógicas têm como objetivo imediato guiar a conduta.
A pedagogia é uma teoria prática,
se ela pretender substituir a experiência, ditando receitas prontas, que o
professor deve seguir mecanicamente, ela acabará por degenerar em teorizações arbitrárias. Por
outro lado, se a experiência abdicar de toda a reflexão pedagógica, ela
resultará em uma rotina cega, ou ficará à mercê de reflexões pobres, elaboradas
sem qualquer método.
Decidimos dar às nossas crianças,
em nossas escolas uma educação que fosse puramente laica que se apóia exclusivamente
sobre idéias, sentimentos e práticas que se justificam unicamente pela razão,
em uma palavra, uma educação racionalista. Tentaremos definir como deve
consistir a educação moral para o homem de nosso tempo e do nosso país.
As escolas são a engrenagem da
educação geral.
Durkheim pretendeu fundar à
“ciência moral” como um ramo da sociologia, e ele pensava que se a moral é
coisa racional, se ela torna reais idéias e sentimentos que emanam da razão,
porque seria necessário, para ficar nos espíritos e no caráter, recorrer a
procedimentos que escapam à razão? Ele acredita que é logicamente possível uma
educação puramente racional.
É um erro dizer que os povos
primitivos não possuíam qualquer moral. Foi um erro histórico. Não existe povo
que não tenha sua moral: o que ocorre é que a moral das sociedades inferiores
não é a mesma que a nossa. A moral desses povos é essencialmente religiosa.
Deus continua a desempenhar um papel importante na moral. É ele que assegura o
respeito e reprime a violação.
A educação moral e a
religiosidade estão entrelaçadas e separá-las não é um processo simples como se
supôs certas idéias religiosas tenham se unido a certas idéias morais se
confundiram parecendo ser uma coisa só.
Dissociar a educação moral da
religião não é tão fácil, pois ao se retirar tudo o que é religioso, sem se
colocar nada em seu lugar corre-se o risco de também se retirar elementos
propriamente morais. Pois não é suficiente suprimir, é preciso substituir,
apresentá-la em sua nudez racional, e encontrar o meio de fazer com que a
criança possa sentir essa realidade, sem recorrer a qualquer intermediário
mitológico.
É preciso tomar cuidado para que
no processo de racionalização a moral não
perca nenhum de seus elementos constitutivos, mas, ainda é preciso que
ela possa ser enriquecida com novos elementos. A primeira transformação se
refere apenas à forma de nossas idéias morais. O racionalismo é o aspecto
intelectual do individualismo.
É preciso que o educador ajude as
gerações mais jovens a tomar consciência
do novo ideal para o qual já se tende, embora de maneira confusa, e que
as oriente nesse sentido. É preciso que a sociedade tenha diante de si um ideal
para o qual ela deve tender.
Os elementos da moralidade
O espírito de disciplina
Quando a criança sai do circulo
familiar e é incluída na escola primária é o período que designamos como
segunda infância esse é o momento crítico para a formação do caráter moral.
Antes disso a criança é muito jovem, não se tem matéria mental suficiente para
a constituição das noções e sentimentos relativamente complexos que estão na
base da moralidade, depois da segunda infância que é a idade escolar se as
bases da moral já não estiverem constituídas, jamais o serão. A partir daí é só
aperfeiçoar o que já foi feito.
Durkheim trata da educação moral
na segunda infância nas escolas publicas que devem ser, a rodagem reguladora da
educação nacional. Ele acredita que o papel da escola na educação é e deve ser
da mais alta importância. Ele propõe engajar-se com o projeto de oferecer em
nossas escolas uma educação inteiramente racional, isto é, livre de qualquer
principio extraído das religiões reveladas. Ele mostra que está obra é possível
e necessária Durkheim ressalta também as
dificuldades desse empreendimento e diz que algo dessa natureza só seria
simples se sua realização fosse medíocre e sem alcance.
A moral racional não pode ser
idêntica, em seu conteúdo a uma moral que se apóia em uma autoridade diferente
da razão. Isso porque os progressos do racionalismo não são separados dos
progressos do individualismo, não podem ocorrer sem um refinamento da
sensibilidade moral que agora nos faz perceber como injustas algumas relações
sociais. O individualismo e o racionalismo se desenvolvem paralelamente e o
segundo age sobre o primeiro e o estimula.
Se observarmos a moral tal como
ela existe, veremos que ela consiste em uma infinidade de regras especiais,
precisas e definidas, que fixam a
conduta dos homens nas diversas situações que se apresentam cotidianamente.
Algumas dessas regras estão nos códigos e são sancionadas de forma precisa;
outras estão na consciência publica, sendo traduzidas na moral popular e são
sancionadas pala reprovação ao ato que as viola, e não por punições definidas.
Jamais algum código, alguma
consciência social reconheceu ou sancionou nem o imperativo moral de Kant, nem
a lei da utilidade tal qual a formularam Mill ou Spencer. Esses preceitos
gerais são apenas generalidades dos filósofos e hipóteses de teóricos. Aquilo a que chamamos de lei geral da
moralidade é simplesmente uma maneira mais ou menos exata de representar esquematicamente,
aproximadamente a realidade moral, mas não é a própria realidade moral. O
direito e os costumes estabelecem a nossa conduta.
Podemos afirmar que a moral é um
sistema de regras que determinam a conduta. Elas dizem como devemos agir em
cada situação, e agir bem é obedecer bem. O papel da moral é, em primeiro
lugar, o de determinar a conduta, de fixá-la, de subtraí-la ao arbítrio
individual. A moral pressupõe certa aptidão a repetir as mesmas ações nas
mesmas circunstâncias, e por isso pressupõe a capacidade de adquirir hábitos,
uma vez que necessita de regularidades. A afinidade entre o hábito e a prática
é tanta, que todo hábito coletivo apresenta quase que inevitavelmente certo caráter
moral. Quando uma maneira de agir se torna habitual em um grupo, tudo o que a
contraria desperta um movimento de reprovação muito parecido com aquele
produzido quando ocorre uma falta moral propriamente dita. Essas maneiras de
agir habituais gozam do mesmo respeito particular de que são objeto as práticas
morais.
Nem todos os hábitos coletivos
são morais, todas as práticas morais são hábitos coletivos, uma regra moral não
é simplesmente uma maneira de agir habitual, é uma maneira de agir em relação à
qual não sentimos a liberdade de mudar de acordo com nossa vontade.
O que ocorre é que estabelecemos
para nós mesmos uma determinada linha de conduta, e então dizemos que definimos
como regra agir de tal e tal maneira e essa linha se apóia em algo diferente da
nossa vontade, em algo que nos é exterior e é a ciência que então obedecemos ao
executar esse plano.
A autoridade devemos entender a
ascendência que exerce sobre nós toda força moral que reconhecemos como
superior a nós, porém há uma categoria de regras em que a autoridade desempenha
um papel absolutamente preponderante, a categoria das regras morais, pois se a
violarmos, nos expomos a conseqüência desagradáveis, corremos o risco de ser
difamados, censurados, ou mesmo de sermos atingidos materialmente, em nossa
própria pessoa ou em nossos bens.
Para que o ato seja aquilo que
deve ser, para que a regra seja obedecida como deve ser obedecida é preciso que
seja cumprida, não para evitar determinado resultado desagradável, determinada
reprovação moral ou material, ou para obter tal recompensa; é preciso que seja
cumprida simplesmente porque devemos cumpri-la,
abstraindo de toda e qualquer conseqüência que poderia produzir a nossa
ação. É preciso obedecer ao preceito moral por respeito a ele, e apenas por isso.
A regra moral é inteiramente um
mandamento, e nada mais, eis por que ela fala, porque , quando ela fala, todas
as outras devem se calar. A moral portanto não é um sistema de hábitos, é um
sistema de mandamentos.